cabe tanta coisa aqui na escrita

eu não virei blogueira. ou virei?

enquanto martelo um pensamento no outro e faço surgir tantos universos mentais, questiono-me sobre o porquê de escrever.  por um lado, tenho certa dificuldade com a linearidade; por outro, tenho mais dificuldade mesmo é de lidar com adultos 30+ que possuem um comportamento emocional de uma criança de 9 anos em sua queda do paraíso. 

eu compreendo que nossa criança ainda more dentro de nós. temos mesmo o privilégio de ter todas as personas até a nossa idade atual. eu, adulta de 32 anos, tenho a menina de 7 e também a adolescente de 15 dentro de mim. posso acioná-las a qualquer momento, mas o fato é que, às vezes, elas voltam sem um convite expresso. não as culpo, mas, logo que detecto o comportamento, aciono a adulta que sou e que hoje já é mãe de uma criança de 8 anos, para analisar e intervir na situação, se for o caso. 

eu até deixo minha criança despertar em alguns momentos. quando estou brincando com meu filho montando peças de Lego, quando estou assistindo a um desenho animado, quando estou dançando e cantando debaixo do chuveiro... minha adolescente dá as caras quando encontro minhas amigas de longa data e rimos à toa de nossas próprias bobagens.

tenho convivido com adultos (não todos. GLÓRIAS!!) que parecem não conseguir controlar as crianças impetuosas e os adolescentes revoltados que vivem dentro de si e deixam-se levar por reclamações ou birras intermináveis nas situações as mais variadas (ou avariadas). talvez eu mesma esteja agindo com minha guia interior de 17 anos ao usar este espaço para compreender as tramas da vida adulta.

como estou duas décadas atrasadas no que diz respeito ao uso de blogs, posso até achar que tenho 12 anos e que, quem sabe, alguém um dia me reconheça pelo que escrevo, que me chame de escritora, que me convide para uma mesa numa Feira Literária e me pergunte: por que a escrita?

eu, com 12 anos, talvez quisesse responder com uma palavra difícil, que eu eu tomaria emprestada do Aurélio, nome que eu queria dar ao meu filho quando eu pensava na possibilidade de ser mãe... meu filho de carne e osso não tem nem nome brasileiro, mas foi uma série de circunstâncias que nos levaram a esta escolha mui especial para nossa história. um dia, quiçá, eu conte. 

bem... hoje, 20 anos mais velha e mais vivida, eu prefiro responder com simplicidade e honestidade: escrever é necessidade, como a comida que como diariamente, como o xixi que faço de hora em hora, como dormir ao menos 5 horas por noite. Apenas e tudo isso: NECESSIDADE. 

cabe tanta coisa aqui na escrita. cabe o mundo e cabe a vida. cabe a existência, a inatalidade e a mortalidade. cabe a liberdade e a prisão. cabe o desabafo e o ensaio, a tese e a antítese... cabe também a síntese e o expurgo. tanto, tanto e tanto! é uma dádiva aprender um idioma, conseguir decodificá-lo, expressar suas ideias com palavras, reter e apreender outros mundos e, ainda assim, somos pobres... nos faltam muitas palavras para expressar o básico e, talvez, por este motivo, a gente revolva nossa infância e se recolha por lá para justificar ações imaturas, sem envergadura de um pensamento mais sofisticado, mais sutil, mais humanizado.

reconhecer esta complexidade que somos, que sou, que é, traz um alívio para o peito. você pode sentir inveja, sabe? mas chame seu guia mais maduro para fazer o manejo mais inteligente deste sentimento. você pode sentir-se injustiçada, mas convoque seu guia mais sensato para compreender a vida como um todo para além do seu próprio umbigo... há tanto a ser dito. e tudo já foi dito. 

quem foi que falou?

quem foi que escutou?

acho que não virei blogueira este mês. virei blogueira quando comecei a escrever.


Celéstyan

18 de Junho de 2025

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